terça-feira, 3 de novembro de 2015

DIVERSIDADE CULTURAL E EMANCIPAÇÃO


DIVERSIDADE CULTURAL E EMANCIPAÇÃO[1]

Celso Ilgo Henz[2]


Talvez para muitos seja ultrapassado e jurássico falar em emancipação em tempos de pós-modernidade e na sociedade do conhecimento e da comunicação, onde “todos podem ter acesso ao que é produzido mundialmente”. Outros talvez considerem utópico falar em emancipação dentro das relações da sociedade capitalista, agora no estágio da especulação financeira (em que o trabalho vivo do ser humano vem sendo trocado pelo trabalho morto da robotização). Não obstante, é a partir desta realidade que ainda continuamos acreditando no ser humano como capaz de (re)descobrir-se sócio-histórico-culturalmente, embora condicionado, com capacidades de tomar nas mãos a sua história, a sua constituição humana na interação e “troca” com os outros e com o mundo.
A globalização coloca homens e mulheres sob diferentes domínios de uma verdadeira “indústria cultural”, visando homogeneizar todos os povos. O sociólogo Octavio Ianni, em sua obra Teorias da Globalização, analisa a globalização capitalista não como um fenômeno meramente econômico, mas também como um processo que envolve as configurações sociais e o estado de espírito das pessoas, gerando diferentes dilemas e horizontes nas pessoas e nas sociedades. A globalização, em nome da modernização, implicaria na difusão e legitimação dos padrões e valores sócio-culturais predominantes na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Para o autor,“...cabe reconhecer que a modernização, nos termos que ocorre pelo mundo afora, está predominantemente determinada pela racionalidade do capitalismo, enquanto racionalidade pragmática, técnica, automática. Em lugar de emancipar indivíduos e coletividades, em suas possibilidades de realização e imaginação, produz e reproduz sucedâneos, os simulacros, virtualidades ou espelhismos” (1996, p. 91).
            Nas relações dentro globalização a diversidade cultural dos povos tanto pode ser enriquecida como também pode ser anulada. Para que o acesso e o contato com o mundo e as “diferenças” nele existentes não transformem ninguém em mero “repetidor” ou “consumidor” dos “bens culturais” de “povos mais desenvolvidos”, é preciso assumir uma postura dialógico-reflexiva, buscando cada povo e/ou indivíduo conhecer e valorizar a sua identidade cultural – e o que nela está implicado – para também valorizar e reconhecer as diferenças histórico-culturais do(a) “outro(a)”, sem necessariamente ter que sujeitar-se aos seus ditames ou, então, simplesmente rejeitá-las.

1. Cultura: ir aprendendo a ser homens e mulheres
            Em meio a uma sociedade brasileira que historicamente foi submetida a uma dependência cultural, forçada à repetição dos valores, costumes, língua, religião e conhecimentos do colonizador, Paulo Freire, em meados do século XX, propôs a sua “Pedagogia do Oprimido”. A cultura é elemento central do processo de reflexão dialógica que leva à conscientização e, por conseguinte, à emancipação daqueles e daquelas que estavam sendo “objetos” da cultura opressora, seja nos campos econômico, político, religioso e intelectual. Num de seus últimos escritos Freire retoma a importância da reflexão e da conscientização para “gostar de ser homem e mulher” em meio a estruturas ainda dominadoras e exploradoras:
                                  
Gosto de se gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam.[...] Contra toda a força do discurso fatalista neoliberal, pragmático e reacionário, insisto hoje, sem desvios idealistas, na necessidade da conscientização. Insisto na sua atualização. Na verdade, enquanto aprofundamento da “prise de conscience” do mundo, dos fatos, dos acontecimentos, a conscientização é exigência humana.[..] Em lugar de estranha, a conscientização é natural ao ser que, inacabado, se sabe inacabado. [...] Mais ainda, a inconclusão que se reconhece a si mesma, implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado num permanente processo social de busca. (1997, pp.60/61)

Sim, na pedagogia libertadora de Paulo Freire a cultura é um elemento central para uma educação crítico-reflexiva e emancipadora. Desde as suas primeiras experiências de alfabetização de adultos em Angicos, na década de 50, até seus últimos escritos, sempre enfatizou a importância de cada ser humano ir se descobrindo como alguém que vem sendo porque faz cultura relacionando-se permanentemente com os(as) outros(as) e com o mundo, acrescentando ao mundo natural criações e recriações que se configuram como saberes e conhecimentos expressos pela linguagem e pelo trabalho. Homens e mulheres vão se descobrindo e assumindo numa interação geradora de cultura, com o mundo e com os outros seres humanos. Dialogando, tendo curiosidade, refletindo, buscando apreender criticamente a causalidade dos dados da realidade, dos fenômenos e das situações que captam e/ou experienciam, vão desenvolvendo uma consciência crítica que começa por devolver-lhes a auto-estima, a confiança em si mesmos(as) e a valorização daquilo que fazem, pensam, sentem e estão sendo[3]. Desmistificando o conceito elitista e excludente de cultura, sua criticidade tem como ponto de partida uma nova concepção:

...a cultura como acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A cultura como o resultado de seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanista da cultura. A cultura como aquisição sistemática da experiência humana. Como a incorporação, por isso crítica e criadora, e não como uma justaposição de informes ou prescrições "doadas". [...] O homem, afinal, no mundo e com o mundo. O seu papel de sujeito e não de mero e permanente objeto.
A partir daí, o analfabeto começaria a operação de mudança de suas atitudes anteriores. Descobrir-se-ia, criticamente, como fazedor desse mundo da cultura. Descobriria que tanto ele como o letrado têm ímpeto de criação e recriação. Descobriria que tanto é cultura o boneco de barro feito pelos artistas, seus irmãos do povo, como cultura também é a obra de um grande escultor, de um grande pintor, de um grande místico, ou de um pensador. Que cultura é a poesia dos poetas letrados de seu País, como também a poesia de seu cancioneiro popular. Que cultura é toda criação humana.(FREIRE, 2000, p. 117)

É fundamental partir sempre da escuta e da problematização do mundo do trabalho, das idéias, dos mitos, das crenças, das convicções, das obras, dos produtos, das artes, das ciências, das aspirações, enfim, do mundo da cultura e da história que homens e mulheres conhecem pela vivência cotidiana, buscando com eles(as) descobrir que tudo é resultado das relações dos membros da espécie humana entre si e com o mundo, mas que esta realidade ao mesmo tempo condiciona aos seres humanos, seus criadores.
Descobrindo-se na condição de “não-sujeitos”, mas também reconhecendo a subjetividade do(a) outro(a), dialogando, homens e mulheres, mesmo em situações estruturais de alienação e dominação, podem ir encontrando luzes e brechas para engajarem-se num sentir/pensar/agir de transformação desta realidade e da sua nova auto-configuração enquanto sujeitos; começam a assumir a aventura e o risco histórico de re-humanizar o mundo no qual eles(as) próprios(as) estão sendo discriminados e/ou negados, para se reencontrarem e reconquistarem humanamente, não como objetos, mas como sujeitos que tomam nas mãos os rumos da história e da própria existência.
A práxis educativa – nos seus diferentes lugares e modos – pode ser a provocadora e a colaboradora principal de um projeto novo, confiando na capacidade crítico-reflexiva dos seres humanos, desenvolvendo com eles as condições para transformarem a si mesmos e o sistema de valores que sustentam estruturas socioeconômicas de dominação e exploração, provocando uma "revolução cultural" que propicie o aparecimento de um mundo novo, construído e habitado por homens e mulheres também novos(as). Uma práxis educativa, então, contribuirá para a emancipação de homens e mulheres que vão descobrindo em si e nos(as) outros(as) a possibilidade de, não obstante todas as determinações estruturais, serem novamente os(as) sujeitos da história; eles e elas têm o poder de se libertarem.
Assim, a cultura vai se fazendo, tornando possível a humanização de homens e mulheres, constituindo um sentir/pensar/agir que, reflexivamente, sabe-se sentindo/pensando/agindo, sabe-se estar sendo e precisando aprender a ser; eles e elas vão assumindo uma identidade sócio-cultural, assumindo-a no relacionamento interpessoal e com o mundo. Não se pode falar em homens e mulheres sem recorrer ao tema cultura; ele é inerente ao processo de humanização das populações humanas; homens e mulheres são seres culturais por essência, na medida que “tomam consciência” da processualidade sócio-histórica em que vem sendo, produzindo um modo de ser e viver pela interação com os outros e com o mundo. Daí que diferentes populações humanas, mesmo tendo a mesma carga genética, serem diferentes umas das outras; nada do que é humano é puramente natural. O que é humano é sócio-histórico-culturalmente aprendido. Por ser pela cultura que, historicamente, diferentes grupos se humanizaram, eles também foram assumindo modos de sentir/pensar/agir, de ser e viver, com características específicas, ainda que recebendo influências (“trocas”) de grupos vizinhos; assim, também os conceitos de “cultura” e “identidade” não podem ser tomadas separadamente. Ademais, toda cultura passa pela mediação da linguagem (e do trabalho).

2. “Aprender a dizer a palavra”
A linguagem é esta aptidão que somente homens e mulheres conseguimos desenvolver, nomeando o mundo para, também simbolicamente, mostrar o que já se conquistou, refletir sobre o que foi feito e imaginar novas mudanças, novas opções; é a capacidade e oportunidade que cada ser humano tem para se pronunciar no seu tempo presente, refletindo, buscando a razão de ser dos conhecimentos e das palavras com as quais as gerações antecessoras historicamente pronunciaram o seu espaço-tempo e a si mesmas; é o meio pelo qual os seres humanos vão dando sentido à própria existência.  Pela linguagem a espécie humana vive na história, pela história, como história e faz história, não ficando prisioneira às fronteiras do presente, podendo interpretar e compreender o passado, ressignificá-lo na atualidade e projetar um novo futuro.
Pela mediação da linguagem os diferentes grupos da espécie humana foram assumindo um modo de sentir/pensar/agir com características próprias, transformando também o mundo natural ao seu entorno através do trabalho. Não obstante, paradoxalmente, na mesma processualidade sócio-histórico-cultural em que foram se emancipando da condição meramente animal, começaram as disputas entre os diferentes grupos; uns passaram a dominar e explorar os outros, impondo-lhes as suas maneiras de ser e viver, transformando-os em “objetos” da sua cultura, do seu sentir/pensar/agir. Foram sendo negadas e/ou arrancadas as raízes identitárias (a sua humanização originária), forçando certos grupos tomarem como referência do seu sentir/pensar/agir os valores, idéias, crenças, costumes e língua do grupo dominante; alienados e dominados, deixaram de ser sujeitos de si mesmos. Por outro lado, grupos e povos, para protegerem-se da possibilidade de dominação e de aculturação, foram criando estruturas e mecanismos de proteção e disseminação das suas características identitárias, desenvolvendo-se uma espécie de etnocentrismo.
O etnocentrismo consiste numa postura em que “o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No plano intelectual , pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade” (ROCHA, 2004, p. 7). “Eu” e “minha cultura” somos o centro, o melhor, o superior; o “outro”, e o seu jeito de conceber a vida e o mundo, são tomados como o anormal, o exótico, o ridículo, o atrasado. O “outro” nunca equivale ao “eu”, e ele sempre é julgado a partir dos valores e referenciais da minha cultura. Ou seja, “aqueles que são diferentes do grupo do eu – os diversos ‘outros’ deste mundo – por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos” (Ibidem, p.15).
Toda pessoa e/ou sociedade tem a base de sua compreensão no seu processo sócio-histórico-cultural. Eis porque é importante o reconhecimento da “palavra” de todos os seres humanos como sujeitos cuja constituição vem se dando por meio de interações, que por vezes podem ser “preconceituosas”, discriminadoras, excludentes e/ou dominadoras. Entretanto, tomando consciência do instituído que condiciona, mas não determina fatalisticamente, pode-se ir construindo tempos e espaços instituintes, onde tudo se põe como projeto, como sonho de “inéditos viáveis”, desafiando a cada uma e a cada um a “dizer a sua palavra” como ação consciente e engajamento na construção e re-construção da história, do mundo, da própria existência humana. Homens e mulheres precisam ser olhados(as) e escutados(as), reconhecidos(as) e valorizados(as), em todas as suas dimensões, para que se consiga integrar e assumir as suas diferentes construções sócio-histórico-culturais, na complexa trama em que se fundem o intelectual e o emocional, o pensar e o fazer, o teórico e o prático, o dever e o prazer, o aprender e  a alegria, o individual e o social.
Assumindo o seu mundo e a sua identidade cultural conscientemente, os seres humanos vão se constituindo enquanto corpos conscientes; humanizando o seu meio, humanizam-se. Por isso, a tarefa da educação é capacitar as pessoas para participarem conscientemente do que existe, mas também para se empenharem fortemente na busca e construção de alternativas que criem condições favoráveis para que todos(as) possam se assumir como sujeitos-fazedores da sua história e do mundo no qual intersubjetivamente vão se gentificando. Neste processo, educar é conscientizar, no sentido de buscar a emancipação e a plenitude da condição humana de cada homem e de cada mulher.



3. Conscientização: desvelamento e compromisso
            Ainda que existam estruturas que aprisionam, é possível criar processos que libertem. Eles e elas podem tomar em suas mãos a sua existência, ainda que nela esteja “introjetada” a cultura do opressor.  Eis porque, de dentro de um sistema articulado de dominação, externa ou interna, o princípio da conscientização é um fator decisivo para um processo de emancipação.  Na conceituação profunda e pluridimensional de FIORI (1991, p. 66), “...o homem não pode libertar-se, se ele mesmo não protagoniza sua história, se não toma sua existência em suas mãos. A isso conduz a dinâmica da conscientização. [...] Só assim será possível repor os termos dos problemas de uma educação autenticamente libertadora: força capaz de ajudar a desmontar o sistema de dominação, e promessa de um homem novo, dominador do mundo e libertador do homem”.
Conscientizando-se, homens e mulheres se existenciam: tomam nas mãos a constituição do seu mundo e a sua própria constituição humana, assumindo a sua emancipação, a sua condição de sujeitos do seu sentir/pensar/agir individual e coletivo, da sua cultura[4]. O ser humano só se conscientiza na medida em que vai desvelando e decodificando o “seu mundo” na sua complexa trama multidimensional, na medida em que nele se encontra, em que nele se assume; homens e mulheres se presentificam a si mesmos(as) presentificando e assumindo o seu mundo e os(as) outros(as), manifestando o seu sentir/pensar/agir do mundo, com o mundo e sobre o mundo. Ou seja, “a consciência é ‘para si’, sendo ‘para o outro': simultaneamente, implicadamente, dialeticamente.Uma consciência que fosse presença presente a si mesma, sem a mediação de presente algum, não seria ‘para si’ mas o ‘si mesmo’ absoluto. Por isso, o ‘para si’ da consciência é uma abertura que seria nada se o outro não fosse, na relação em que ela, a consciência, se constitui”  (Ibidem, p. 67).
Na medida em que o ser humano dá significados ao mundo e expressa o seu sentir/pensar/agir nesse significar ativo, ele se reencontra cada vez mais, reencontrando, também, as “verdades” sobre as quais o mundo vai sendo construído, bem como as “verdades” com as quais ele próprio, nos diferentes grupos e circunstâncias históricas, desenvolve seu processo de humanização. Então, a conscientização – que é sempre inserção intencionada no mundo, junto com os(as) outros(as) – só pode ser entendida como ação transformadora.  Homens e mulheres descobrem-se sendo num mundo que é feito e significado pelo trabalho, pela linguagem, pelas emoções, sentimentos, convicções, crenças, costumes, valores, reflexões, decisões e ações de seres humanos, para que historicamente pudessem se humanizar. Os saberes e as práticas passam a ser explicadas e compreendidas dentro da multiplicidade de sentidos construídos historicamente pela dialética mundo-educação-seres humanos. Eis porque em todos os espaço-tempos educativos é fundamental “tematizar”, valorizar e problematizar dialogicamente o mundo da vida, as diferentes culturas, as diferentes linguagens, os valores inculcados, os saberes e conhecimentos com os quais tentamos compreender e explicar as coisas e acontecimentos da vida e do mundo, como gerados historicamente.
De uma maneira ou outra, eles e elas já estão sendo gente, já aprenderam muitos saberes importantes em muitas dimensões da natureza/cultura humana; sabem, sentem, sofrem, vibram, imaginam, criam, falam, pensam, adivinham, sonham... vêm sendo gente pela “experiência feito”. Eis porque “é impossível conhecer com desprezo à intuição, aos sentimentos, aos sonhos, aos desejos. É o meu corpo inteiro que, socialmente, conhece. Não posso, em nome da exatidão e do rigor, negar meu corpo, minhas emoções, meus sentimentos” (FREIRE, 1995, p. 109).
Pensando em processos de emancipação, que sempre devem fundamentar-se na valorização e no reconhecimento das construções e saberes dos sujeitos envolvidos, entendemos que optar pela pedagogia do “diálogo problematizador” é o melhor caminho. O questionamento e a pergunta, o “dizer a palavra”, são mais do que simples indagações; são manifestações do corpo consciente de um homem ou de uma mulher que está em busca da realização dos seus sonhos ou da resolução de suas preocupações, carregadas de cultura, história, posição de classe, sentimentos, denúncias, esperanças, valores, saberes. É preciso reconhecer que o povo trabalhador já conhece, já tem um saber; e partir desta bagagem cultural para que suas crianças, seus jovens e eles(as) próprios(as) possam conhecer mais e melhor, inclusive para problematizar e refletir com eles(as) sobre o conhecimento (ou saber) que se fixa na aparência e sensibilidade dos fatos, buscando alcançar sua razão de ser. Segundo FREIRE, no seu diálogo problematizador com Moacir Gadotti e Sérgio Guimarães,“para que se faça isso ao nível do conhecimento da realidade, ao nível da participação, não há outro caminho senão o de partir precisamente do lugar em que a classe trabalhadora se acha. Partir do ponto de vista da sua percepção do mundo da sua história, do seu próprio papel na história, partir do que sabe para poder saber melhor, e não partir do que sabemos ou pensamos que sabemos. Se o ponto de partida está em nós, os chamados intelectuais, não há nenhum outro caminho senão o autoritarismo” (In GADOTTI et al, 1995, p. 69).

4. Diálogo problematizador, reflexão e emancipação
Na escuta da palavra do “povo”, da sua semântica, da sua sintaxe, está a chave da compreensão do seu sentir/pensar/agir e a possibilidade de, pelo diálogo problematizador, contribuir com processos emancipatórios quando as situações são de discriminação, de opressão, de dominação e de “coisificação” de homens e mulheres. Caso contrário, ainda que em nome de uma educação crítico-transformadora, pode-se transformá-los(as) em objetos do “nosso” modo de sentir/pensar/agir, sobretudo pela nossa linguagem, impondo-lhes a “nossa” visão da realidade, do mundo, da vida, da cultura, etc.. Neste sentido, Freire alerta:“... é o caso de quem procura fazer cabeças, desconsiderando, por exemplo, que a consciência crítica, junto com uma dimensão de classe supõe uma dimensão individual, o que faz com que a consciência se manifeste de forma heterogênea. É impossível, assim, que numa platéia de trezentas pessoas, por exemplo, a consciência crítica se manifeste homogeneamente. Os momentos da consciência são vividos também individualmente e remetem à história do indivíduo, da sua idade, sexo, crença, etnia, ou seja, elementos que não são apenas de classe” (Ibidem, 77/78).
Ademais, só é emancipador problematizar suas visões e concepções da realidade se primeiro houver a aceitação e valorização das mesmas tanto quanto se dá importância aos saberes e conhecimentos técnico-científicos. É a tarefa do “desvelamento do real”, que sempre requer, escuta, sensibilidade, diálogo, participação, respeito, problematização, reflexão, autonomia, oportunidade para todos(as) “dizerem” seu sentir/pensar/agir sem a presença de qualquer forma de coerção. Trata-se de assumir uma práxis educativa que coloque sua preocupação fundamental na realidade e na vida de seres humanos concretos, procurando “olhá-los” e “escutá-los” a partir do seu mundo significante das “palavras” que pronunciam. Prosseguindo o diálogo com Faundez, Freire aprofunda:“aí temos uma diferença enorme entre nós e as classes populares que, de modo geral, descrevem o concreto. Se perguntarmos a um favelado o que é uma favela, é quase certo que responda: na favela não temos água. A sua descrição é a do concreto, não a do conceito. A linguagem das classes populares é tão concreta quão concreta é a sua vida mesma”(FREIRE & FAUNDEZ, 1998, p. 64).
Por sua vez, a realidade sócio-histórica também é um “dando-se”. Por isso, ela pode ser mudada, transformada, uma vez que a sua complexidade e riqueza estão justamente no fato dela ao mesmo tempo mostrar-se cheia de limites e grávida de possibilidades. A busca da sua compreensão, o seu confronto com idéias e teorias, a sua problematização, a sua decodificação, vão se constituindo numa tomada de consciência capaz de gerar novos sonhos, novas idéias e novos projetos; mas com o sentido de “inéditos viáveis” porque partiram do concreto que aí está, podendo transformar-se em ações, e não porque foram “soluções importadas de fora”.  Para tanto, todos(as), mas principalmente os(as) educadores(as) e os(as) pesquisadores(as), precisam tornar-se“capazes de ir aprendendo a juntar, na análise do processo em que se acham, a sua competência científica e técnica, forjada ao longo de sua experiência intelectual, à sensibilidade do concreto” (Ibidem, p. 56). No “diálogo problematizador” tanto as perguntas como as respostas devem sempre ter ligação com a vida, com o mundo, com as ações e as práticas vivenciadas pelos(as) interlocutores(as), para não virarem um jogo intelectualista; é de fundamental importância que o homem ou a mulher, “ao perguntar sobre um fato, tenha na resposta uma explicação do fato e não a descrição pura das palavras ligadas ao fato. É preciso que..  vá descobrindo a relação dinâmica, forte, viva, entre palavra e ação, entre palavra-ação-reflexão” (Ibidem, p. 49).
A “pedagogia da pergunta” leva à radicalidade das palavras, das coisas, dos fatos, da vida e da existência de homens e mulheres, buscando a razão de ser, a essência do ser-no-mundo na concretude sócio-histórico-cultural. Mas também abre as portas para, a partir do desvelamento da realidade, sonhar novas aventuras e novas possibilidades; faz transcender as fronteiras espácio-temporais para vislumbrar um projeto de futuro com novos horizontes, novas maneiras de ser-no-mundo; faz nascer a esperança e o compromisso com a mudança, desafiando a todos(as) a construir a história de forma mais humanizadora: “o sonho  é sonho porque, realisticamente ancorado no presente concreto, aponta o futuro, que só se constitui na e pela transformação do presente” (Ibidem, p. 71). Somente quem tem o pé conscientemente na realidade consegue dar um passo para fora da mesma; somente quem toma consciência do espaço-tempo presente pode vislumbrar um futuro diferente, aceitando o risco de ajudar a construir uma nova história à luz da utopia, do sonho possível, para superar os limites que o sistema vigente impõe. Trata-se de uma relação dialética entre a realidade – que nos condiciona – e a utopia, o sonho de um mundo com relações diferentes. Para poder sonhar em ir a algum lugar diferente é preciso primeiramente saber e aceitar a realidade onde se está.
Então, nada sobre a vida, os humanos, a sociedade, a cultura, a linguagem, a ciência, a técnica, a atividade humana, a política, pode ser desconsiderado por uma práxis educativa crítico-emancipadora. Daí a necessidade de escutar os(as) educandos(as), dialogar com as crianças, os(as) jovens e/ou adultos para com eles(as) “ler o seu mundo”, partindo do saber da experiência-feito expresso na sua semântica, na sua sintaxe, na sua expressão corporal e em tantas outras formas de linguagem, para a partir daí, sempre com eles(as), começarmos a ler as palavras, os conceitos, as significações que historicamente os seres humanos sistematizaram e foram deixando de geração para geração.
Toda práxis educativa se dá com sujeitos totais que vêm se fazendo como história, como corpos conscientes, como identidades de crianças, adolescentes, jovens e adultos, evitando a “ruptura entre sensibilidade, emoções e atividade cognoscitiva. Já disse que conheço com meu corpo inteiro: sentimentos, emoções, mente crítica” (FREIRE, 1993, 118). Eis porque educadores(as) e educandos(as) precisam descobrir-se e assumir-se como seres humanos,  porque o processo de relações e aprendizagens  “não é movido a teoria, nem a tematização, nem a discurso crítico. É movido a valores, sentimentos, pensamentos, concepções, culturas escolares e profissionais" (Ibidem, 147). Para além da descoberta de explicações causais, teóricas ou ideológicas, é imprescindível buscar a auto-descoberta em meio às diferentes culturas sociais que vão guiando práticas, para que todos se tornem sujeitos, tanto da práxis educativa  como da práxis social. Assim, pela educação, as crianças, os jovens e os adultos, que vêm sendo, irão aprendendo a se assumir como seres sócio-histórico-culturais, descobrindo-se e conscientizando-se de que são condicionados e até mesmo dominados por outras culturas e circunstâncias, mas que podem libertar-se, tomar a sua genteidade nas próprias mãos, como sujeitos de si mesmos(as) e do mundo em que vêm sendo. Para tanto, muito mais que uma “pedagogia de respostas”, uma “pedagogia da pergunta e do diálogo” pode ajudar na construção de relações emancipatórias, onde todos possam “aprender a dizer a palavra” e “ser mais”.
É a partir do seu mundo que os sujeitos cognoscentes dão ao enunciado um determinado sentido, tanto na emissão como na recepção. As diferentes percepções estão imbricadas por uma diversidade de ambientes significados e significantes, decorrentes das vivências de homens e mulheres que vão se humanizando pela convivência; é preciso assumir a dialeticidade e dialogicidade Eu-Tu, capaz de gerar a fusão de horizontes entre os mundos dos conhecimentos acadêmicos e os mundos dos(as) educadores(as) e educandos(as) do momento presente, para que todos(as) compreendam o sentido das aprendizagens que buscam construir, sempre no sentido de nos orientarmos dentro do nosso mundo da vida e do nosso horizonte de compreensão.Quando sentimos os limites da nossa compreensão, sentimo-nos remetidos(as) a refletir sobre nosso modo de compreensão na sua condicionalidade e limitação sócio-históricas. Somos chamados(as) a procurar entender o "outro(a)" através do "seu mundo", da sua maneira de conceber as coisas. Assim, em todos os encontros humanos, em todos os conhecimentos, abrem-se novas visões e se descortinam novos horizontes, que por vezes podem até mesmo chocar-se ou romper com o "nosso mundo" de compreensão.
Quando se quer compreender o(a) "outro(a)", a partir do ponto de vista da época atual,  com uma situação histórica e um horizonte concreto de compreensão, deve-se escutá-lo(a) para compreender o que vem dele(a), do seu tempo, da sua cultura, do seu saber (científico ou de experiência-feito), dos seus questionamentos, de seu espírito. Ocorre, então, um duplo movimento, no qual se fundem os dois horizontes de compreensão.  Entretanto, para compreender o(a) outro(a) não é necessário assumir seu ponto de vista, seu modo de pensar, suas convicções e atitudes, mas, mesmo guardando distância, examinar, verificar e conhecer a sua visão e os fundamentos que o levaram a pensar e falar o seu conteúdo daquela forma. O que não pode ocorrer é tentar significar o sentir/pensar/agir das outras pessoas a partir do nosso horizonte de compreensão, desrespeitando os significados presentes no mundo sócio-histórico-cultural da constituição existencial destes homens e mulheres; assim negar-se-ia a sua condição de sujeitos.
Urge, pois, o esforço em salvar um tipo de sentir/pensar/agir que não descole do mundo e da práxis vivida pelos homens e pelas mulheres de diferentes raças, etnias e/ou grupos sociais, configurando um modo próprio de sentir/pensar/agir, de ser-no-mundo; em outras palavras, reconhecer e comprometer-se com a sua identidade, constituída sócio-histórico-culturalmente. A primeira condição para tal é: acreditar nas capacidades dos homens e das mulheres, criando as condições necessárias para que possam “dizer a sua palavra”, a partir do seu mundo da vida, da sua maneira de ser e viver. Eles(as) próprios(as), na medida que também vão aprendendo a escutar e respeitar os(as) seus(suas) colegas, dialogicamente vão confrontando, comparando, problematizando as concepções de vida, os valores, os saberes e conhecimentos que vão sendo apresentados; ao serem problematizados(as) por outros(as) que pensam e sentem a realidade sob outra perspectiva, terão que rever seus posicionamentos e/ou aprofundá-los mais, na medida que vão argumentando, refletindo, organizando e criando idéias. Por isto Freire acredita que uma outra educação é possível, e propõe uma práxis educativa assentada na "concepção problematizadora e libertadora da educação", acreditando profundamente no poder (re)criador dos seres humanos, reconhecendo-os como "corpos conscientes".

5.  Encontros “Eu-Tu” e emancipação
Partindo do pressuposto de que homens e mulheres estão sendo impedidos(as) de ser na sua plenitude por causa das relações e estruturas sociais que os(as) coisificam obrigando-os(as) à acomodação ao mundo da opressão, diz-nos claramente FREIRE (1998, p. 67), "a libertação autêntica, que é humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo". Dialogando, questionando, refletindo, conscientizando, re-fazendo, investigando criticamente vão se descobrindo como seres capazes de sentir/pensar/agir por si mesmos(as), na medida que desvelam o mundo que os(as) fazia "ser menos". Ou seja, “a educação problematizadora se faz, assim, um esforço permanente através do qual os homens vão percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com que e em que se acham. [...] Servindo à libertação, se funda na criatividade e estimula a reflexão e a ação verdadeiras dos homens sobre a realidade, responde à sua vocação, como seres que não podem autenticar-se fora da busca e da transformação criadora” (FREIRE, 1998, p. 72).
No diálogo, na solidariedade, todos e todas podem ter as condições para ser mais, dizendo a sua palavra enquanto denúncia de um mundo opressor e desumanizador, mas também enquanto pronúncia transformadora desse mesmo mundo, através da fala, do trabalho, da ação-reflexão-ação. Aprendendo a falar umas com as outras, as pessoas aprendem também a reconhecer e incorporar as diferentes visões de mundo presentes nas palavras de cada participante. Dialogar é um processo em que todos(as) se permitem "pensar em voz alta", sabendo que podem ser questionados(as) nas suas idéias e que devem estar dispostos(as) a escutar as idéias dos(as) companheiros(as): "aprendemos a ouvir os outros quando gastamos tempo para construir para nós mesmos o significado do que eles estão tentando comunicar. E aprendemos a nos ouvir quando gastamos tempo refletindo a respeito do significado de nossas próprias palavras" (SPLITTER & SHARP, 1999,  p. 67). Cada um(a) vai falando na inteireza de seu corpo consciente que vem sendo sócio-histórico-culturalmente, mas também vai aprendendo a escutar a inteireza do(a) outro(a) como corpo consciente que em outro “mundo da vida” vem sendo sócio-histórico-culturalmente. Começa-se a respeitar as individualidades e características culturais de cada um(a); então, “a ida ao ‘outro’ se faz alternativa para o ‘eu’. O plano onde as diferenças se encontram, onde o ‘eu’ e o ‘outro’ se podem olhar como iguais, onde a comparação se traduz num enriquecimento de possibilidades existenciais, é o plano mais amplo e profundo de um humanismo do qual o etnocentrismo se ausenta. [...] Aí também, no encontro entre o ‘eu’ e o ‘outro’, emerge uma compreensão do ser humano, a um só tempo, problematizadora e generosa” (ROCHA, 2004, P. 93).
O reconhecimento da condição existêncial do meu “eu” está em olhar e escutar o “outro” e o “diferente” dentro da sua constituição histórico-cultural, a partir de um conjunto de emoções, decisões, consensos ou imposições, que grupos de homens e mulheres, historicamente sistematizaram e configuraram como princípios, valores, conteúdos conceituais, verdades, crenças, leis e gostos; esta trama de elementos acaba condicionando as relações entre as pessoas dos diferentes grupos sociais, através de uma herança sócio-histórico-cultural que é legada de uma geração para as gerações seguintes. Cada “outro(a)”, seja uma pessoa ou um grupo, assim como “eu”, tem a sua resposta existencial, a sua “alteridade”. Ou seja, a emancipação enquanto humanização só possível no encontro dialógico “Eu-Tu”.


Referências Bibliográficas
CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ciência Sociais. Trad por Viviane Ribeiro. 2ª ed. Bauru/SP: EDUSC, 2002.
DUSSEL, E. D. Filosofia da Libertação. Crítica à ideologia da exclusão. SP: Paulus, 1995.
FIORI, Ernani Maria. Educação e Política. Textos Escolhidos, vol. 2. Porto Alegre/RS: L&PM, 1991.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 15ªed. RJ: Paz e Terra, 1989.
FREIRE, Paulo. Professora Sim, Tia Não. Cartas a quem ousa ensinar. 2ªed. SP: Olho d'Água, 1993.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 2ªed. SP: Cortez, 1995.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 6ªed. RJ: Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 25ªed. RJ: Paz e Terra, 1998.
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 24ªed. RJ: Paz e Terra, 2000.
FREIRE, Paulo & FAUNDEZ, Antonio. Por uma Pedagogia da Pergunta. 4ª ed. RJ: Paz e Terra, 1998.
GADOTTI, Moacir, FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sérgio. Pedagogia: diálogo e conflito. 4ªed. SP: Cortez, 1995.
HENZ, Celso. Razão-emoção crítico-reflexiva: um desafio na capacitação de professores. Tese de Doutorado. Porto Alegre: PPGEDU-UFRGS, setembro de 2003.
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 3ªed. RJ: Civilização Brasileira, 1996.
MATURANA, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. 2ªed. Belo Horizonte/MG: Ed. UFMG, 2001.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 3ªed. SP: Cortez; Brasília/DF: UNESCO, 2001.
ROCHA, Everardo. O que é Etnocentrismo. 19ª ed. SP: Brasiliense, 2004.
SPLITTER, Laurance J., SHARP, Ann Margaret. Uma Nova Educação: a comunidade de investigação na sala de aula. Trad. de Laura Pinto Rebessi. SP: Editora Nova Alexandria, 1999.
ZAOUAL, Hassan. Globalização e Diversidade Cultural. Trad. por Michel Thiollent. SP: Cortez, 2003.




[1] Artigo publicado na Revista Espaço Pedagógico. Vol 13,  nº 1 Passo Fundo: UPF Editora, Faculdade de Educação, jan.jun. 2006.
[2] Doutor em Educação pelo PPGEDU/UFRGS, setembro de 2003. Professor do PPGE, Centro de Educação da UFSM/RS. Coordenador do Grupo de Pesquisa “DIALOGUS: educação, formação e humanização com Paulo Freire”. Email: celsoufsm@gmail.com
[3] Freire relata que após os debates com os(as) alfabetizandos(as) adultos(as) dos círculos de cultura, tanto no Brasil como no Chile, afirmações de felicidade e autoconfiança ocorriam com freqüência, tais como: "Faço sapatos e descubro agora que tenho o mesmo valor do doutor que faz livros"; "Amanhã vou entrar no meu trabalho de cabeça para cima" (Gari de Brasília); "Sei agora que sou culto... porque trabalho e trabalhando transformo o mundo" (Um camponês). (Cf. FREIRE. Educação como Prática da Liberdade, p. 118-121).
[4] Para Fiori, cultura é o processo no qual homens e mulheres se constituem e re-constituem, através da encarnação e comunhão intersubjetiva e da mediação humanizadora do mundo; esse processo implica, pois, aperfeiçoamento pessoal e transformação do mundo. A forma humana manifesta-se em comportamentos configurados num contorno axiológico de valores (cf. FIORI, 1991, pp. 77/78).
Paulo Freire entende a cultura como tudo o que os seres humanos criam “nas permanentes relações homem-realidade, homem-estrutura, realidade-homem, estrutura-homem (...) Todos os produtos que resultam da atividade do homem, todo o conjunto de suas obras, materiais ou espirituais, por serem produtos humanos que se desprendem do homem, voltam-se para ele e o marcam, impondo-lhe formas de ser e de se comportar também culturais” (FREIRE, 1989, pp. 56/57).

Nenhum comentário:

Postar um comentário