terça-feira, 3 de novembro de 2015

“DIALOGUS”: auto(trans)formação permanente, humanização e cidadania


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"DIALOGUS:" auto(trans)formação permanente, humanização e cidadania *

Celso Ilgo Henz**
- Primeiras Palavras...

Em meio à realidade sócio-econômico-cultural vigente, a escola pode ser um dos poucos lugares onde crianças, adolescentes, jovens e adultos tenham a oportunidade de encontrar um ambiente e pessoas que ainda não estejam totalmente “coisificados” pela engrenagem da sociedade capitalista neoliberal globalizada.
Nesta perspectiva, os professores são desafiados duplamente: por um lado “educar” as futuras gerações para se adequarem e conseguirem sobreviver no mercado de trabalho e nas estruturas sociais vigentes, assentadas prioritariamente no conhecimento e na informação, para o que se faz necessário desenvolver um certo número de “habilidades e competências”; doutra parte, torna-se extremamente importante e emancipador desenvolver uma capacidade de reflexão crítica, de autoria e autonomia pelo “dizer a sua palavra” (FIORI, 2011) e que se constitua como conscientização enquanto engajamento na transformação do status quo vigente, para que todos tenham acesso às condições mínimas para viverem como seres humanos e  cidadãos.
O “Grupo Dialogus” e seus projetos visam ser um espaço-tempo de estudos e pesquisas, através diálogo-problematizador, junto com os professores da Educação Básica e acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria, propiciando uma reflexão e pesquisa sobre a realidade social e escolar e sobre possíveis mudanças nas práxis educativas, e contribuir com uma vida mais digna pessoal e socialmente. Busca encorajar os profissionais a refletirem sobre si mesmos, sobre suas práticas, para que possam também despertar nos estudantes esse sentimento de humanização e cidadania. Tomando como enfoque a perspectiva hermenêutica, dá-se preferência ao processo epistemológico-politico enquanto pesquisa-formação (JOSSO, 2004), pelos seus aspectos eminentemente (re)construtivos e dialéticos com vistas à transformação pessoal, pedagógica e social.
O projeto de pesquisa “Humanização e Cidadania na Escola: diálogos com professores” se desenvolve dentro do Grupo de Estudos “Dialogus: educação, formação e humanização com Paulo Freire”, registrado junto à base do CNPq em 2011. Mas desde maio de 2007 as atividades com este recorte de pesquisa-ação se desenvolvem em escolas municipais e estaduais da cidade de Santa Maria/RS e regiões próximas, cujos desdobramentos e  aprofundamentos levaram à criação e registro do “Grupo Dialogus”. A razão para tal foi a necessidade de ampliar e aprofundar questões do projeto de pesquisa “Humanização e Cidadania na Escola”. Assim, as pesquisas, juntamente com os estudos que ocorrem quinzenalmente na UFSM, se constituem como um processo de educação e (re)construção de conhecimentos a partir da indagação auto-reflexiva que prevê o envolvimento de todos os sujeitos (acadêmicos dos cursos de licenciatura e professores da Educação Básica e Superior) em ações prospectivas, tendo como objetivo geral investigar e oportunizar a criação de processos de humanização e vivência de cidadania com os professores e acadêmicos Educação Básica e Ensino Superior, visando identificar os seus limites, desafios e possibilidades.
Com Freire (1999), acreditamos que, a partir da reflexão sobre si mesmo e sua práxis, toda pessoa é capaz de intervir na sociedade, uma vez que esse processo conduz a tomadas de consciência e pode resultar no compromisso de cada homem e mulher para com a história pela qual vai se constituindo. Daí que durante os encontros, refletimos e dialogamos com os educadores sobre si mesmos, suas práticas e sobre o contexto político-econômico-social no qual estão inseridos. Assim busca-se também construir caminhos que possibilitem mudanças positivas à educação e à vida desses profissionais, contribuindo desta forma, para o processo de humanização e cidadania na escola. Esse conjunto de movimentos dialógico-reflexivos torna-se dispositivo de auto(trans)formação para cada participante interlocutor.



 
- Metodologia e caminhos percorridos

A metodologia utilizada no projeto “Humanização e Cidadania na Escola” e nos encontros do “Grupo Dialogus” fundamenta-se em uma abordagem qualitativa que compreende a complexidade dos fenômenos da vida humana. Para isso, dialoga-reflete para desvendar muitos significados  da vida social que condicionam o ser/fazer das pessoas; ou seja,

... ela trabalha com o universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esses conjuntos de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2012, p.21).

            Como abordagem qualitativa, parte-se de problemas reais. Ademais, nos espaços-tempos do grupo de estudos e das atividades de pesquisa, todos os sujeitos são participantes e caracterizam-se como coautotores e construtores de conhecimentos e práticas que sirvam para intervir nos problemas levantados, refletindo e analisando sobre como se dão as diferentes relações e interações na práxis educativa escolar e na sociedade. Esse processo se dá por meio de diálogos investigativo-formativos, por tratar-se de uma metodologia eminentemente dialética e construtiva com vistas à transformação da realidade e de si mesmos.
Toda esta processualidade dialógica e dialética inscreve-se no âmbito hermenêutico, pois estabelece uma ação comunicativa, problematizadora, reflexiva e histórica, gerando a fusão dos diferentes mundos e horizontes de compreensão, através das experiências e leituras de cada sujeito participante do Grupo. Nesse sentido, para Henz (2003, p. 24), compreender

.... significa apreender o sentido. Mas este sentido sempre encontra-se num determinado contexto; é aquilo que é "significativo" num respectivo mundo, a partir do qual a linguagem humana pode descortinar muitas significações e/ou intencionalidades dentro de uma totalidade  impregnada pela história, tradição,  vida cotidiana, diferentes maneiras de ver e viver a existência humana e o mundo em que ela se constitui.

Para a realização e dinâmica dos encontros, assumimos os “Círculos Dialógicos Investigativo-formativos” como proposta político-epistemológica e pedagógica, inspirados nos “Círculos de Cultura” criados por Freire: “Os Círculos de Cultura... reúne um coordenador com algumas dezenas de homens do povo, num trabalho comum de conquista da linguagem. [...] a condição essencial da tarefa é o diálogo: ‘coordenar, jamais impor sua influência’” (FREIRE, 1979, p.27). Nesta perspectiva, segue o testemunho de uma professora:

Precisamos nos perceber enquanto gente que somos e estamos conseguindo essa percepção a partir de nossos diálogos aqui. Vocês nos provocaram, nos desacomodaram de nossas práticas; possibilitaram a nós um espaço de ouvir, falar, refletir, discutir, respeitar, compartilhar e principalmente rever nossas práticas” (FALA DE UMA DAS PROFESSORAS PARTICIPANTES, NOVEMBRO/2013).

Os encontros quinzenais, na universidade ou nas escolas de Educação Básica, constituem-se no entrelaçamento de muitas dimensões e aspectos do humano, do pedagógico e do social, enquanto “leitura da palavra e (re)leitura do mundo” e das práxis pedagógicas, resultando na “conscientização” de si no/com o mundo, pela aprendizagem do “dizer a sua palavra” de cada um (FIORI, in FREIRE, 2011).


- Diálogos (re)construídos na Auto(trans)formação Permanente...
           
Durante os encontros com os professores e acadêmicos são promovidos diálogos-problematizadores, desafiando para a possibilidade da descoberta do inacabamento, e por conseguinte, a consciência de ser humano em permanente processo de auto(trans)formação. Assim, procura-se ao longo dos encontros desafiar à reflexão e transformação sobre o cotidiano da sala de aula e da escola, bem como o resgate da genteidade[1] de educadores, educandos e acadêmicos.
Segundo Francisco Imbernón (2009) os processos de formação de professores, as instituições educativas e os profissionais da educação precisam redefinir e reestruturar objetivos e ações, buscando assumir novas competências e conhecimentos pedagógicos, científicos e culturais, condizentes com o período histórico, econômico e político da sociedade. Assim, acreditamos que a formação permanente de professores  se dá por meio dos questionamentos e das reflexões dialógicas que abrangem não só a prática, mas também, capacidades, saberes, atitudes, sensibilidades, valores e concepções de cada professor ou professora e do grupo como um todo. Então,

“O que ficou muito forte para mim, é que precisamos ter coragem para enfrentar as oposições, pois sempre que buscamos inovar, criar novas maneiras de aprender-ensinar somos barrados, ou pela gestão da escola, ou pela secretária ou ainda pela sociedade. Precisamos ter coragem para enfrentar tudo isso por nossos alunos como a professora do filme teve.” (Fala de uma das Professoras Participantes, maio/2013)

Desta forma, os participantes dos círculos dialógicos desafiam-se permanentemente, buscando descobrir, organizar, fundamentar, revisar e (re)construir teorias e práticas, dentro do contexto escolar ou para além do mesmo.
A partir dos pressupostos de Freire (1979, 1999, 2009, 2011), Josso(2004) e de Imbernón (2009) acreditamos ser imperativo o desenvolvimento de práticas auto/trans/formativas alternativas, fundamentadas em uma autonomia com autoria e participação dialógica e democrática, que possibilitam a reflexão sobre os contextos escolares, da comunidade circundante e da organização da sociedade. Nessa perspectiva, os processos de auto(trans)formação de professores assumem um papel importante para uma nova práxis pedagógica. Somente profissionais abertos à reflexão sobre suas práticas e os contornos individuais e coletivos que envolvem os estudantes e os processos educativos serão capazes de “estabelecer estratégias de pensamento, de percepção, de estímulos e centrar-se na tomada de decisões para processar, sistematizar e comunicar a informação” (IMBERNÓN, 2009, p. 41).
Para Freire (2009) essa auto(trans)formação se caracteriza por um movimento de distanciamento, de reflexão crítica sobre as ações do contexto concreto, a partir da curiosidade epistemológica que se articula com o saber prático e posteriormente com a prática, como instrumentos indispensáveis na construção de um conhecimento mais consistente e significativo sobre o mundo vivido e sentido.

[...] o saber teórico destas influências teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade concreta em que educadores trabalham. Já sei, não há dúvida, que as condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios (p. 137).

Diante disso, é imperativo que os educadores e as educadoras compreendam a importância de novas práticas pedagógicas, nas quais os conteúdos estejam imbricados com as relações humanas, as quais constituem os sujeitos e perpassam todos os momentos e aspectos dos processos de ensino-aprendizagem. Isso implica o desejo e a abertura para se auto(trans)formar; quer dizer, a “formação” é algo que somente o professor pode realizar sobre si mesmo (auto), na mesma dinâmica dialética em que deseja e busca refletir sobre e mudar (transformar) a sua prática, sempre dialógica e intersubjetivamente.
A auto(trans)formação é entendida como um processo que cada participante realiza sobre si mesmo a partir dos diálogos, problematizações, reflexões e ações que se desenvolvem no grupo. Freire (2011) e Josso (2004) nos subsidiam para compreender que ninguém é “formado” de fora para dentro, mas cada um se autoforma em diálogo com os outros, mediatizado pelos diferentes contextos e pelas pesquisas que ajudam a cada pessoa se transformar na mesma dialética em que se compromete com a transformação de suas práticas e da realidade.
Nesse sentido, acreditamos que o diálogo entre profissionais já atuantes nas instituições educativas e acadêmicos em formação nos cursos de licenciatura, provoca e possibilita maiores discussões nos processos de auto/trans/formação (inicial e permanente) de professores. A partir da leitura e compreensão das relações dos sujeitos que compõem esses espaços e dos processos de ensino-aprendizagem os professores tornam-se mais sensíveis e desafiados pelas mudanças que ocorrem na sociedade, e que envolvem tanto os estudantes como a eles próprios.
           
- Diálogos a serviço da auto(trans)formação, humanização e cidadania...
               
No decorrer dos encontros buscamos dialogar sobre a importância da leitura critica do mundo e da realidade, que precede a leitura da palavra. Freire (2009) nos provoca para a possibilidade de reinvenção das práticas pedagógica através da leitura e compreensão das ideologias que estão imbricadas em nossas ações. O desafio é ousar com novas práticas pedagógicas, reconhecendo que para “outros sujeitos”, que trazem as marcas das “imagens quebradas”, fazem-se necessárias “novas pedagogias” (ARROYO, 2004 e 2013), com as quais os conteúdos sejam abordados e imbricados com as relações humanas e socioculturais. Nesta dinâmica dialética, o educador também está constantemente aprendendo e ensinando junto com os educandos.
                Assim, depois de quase dois anos de encontros com um grupo de professores da modalidade EJA, muitos deles se manifestaram sobre a necessidade de ao planejar suas aulas, sentirem primeiro a necessidade de ouvir e dialogar com os estudantes acerca dos seus cotidianos. Para corroborar com estas (re)(des)construções epistemológicas, pedagógicas e políticas, trazemos a narrativa de um dos participantes do grupo no dia 02 de maio de 2013: “a curiosidade, a inquietude, nos faz rever a nossa prática para melhorá-la no amanhã. Sempre numa percepção crítica, reinterpretada e reescrita do que foi lido, ou seja, para transformar nossa prática em uma prática mais consciente e dialógica”. Não obstante,  Freire (2009) alerta que esse movimento não ocorre se não nos voltarmos ao campo existencial; nesse movimento é possível não só maior compreensão do mundo e da palavra, mas a própria transformação, pois na medida em que a leitura do contexto concreto e teórico acontecem os sujeitos poderão modificar suas práticas e o espaço no qual vivem. Nas palavras do autor,

Refiro-me a que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica na continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me referi acima, este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo, está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porem, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de escrevê-lo ou reescrevê-la, quer dizer, transformá-lo através de nossa prática consciente (FREIRE, 2009, p. 30).

                Esse engajamento com a realidade e com a sua leitura demanda uma compreensão crítica das ações que os sujeitos estabelecem nos seus contextos (escolares e sociais). Daí também a não neutralidade da ação educativa e da escola, reconhecendo que toda a educação possui em sua natureza uma ideologia política, e todo o ato político possui uma ação educativa. Assim, quanto mais nos aproximamos da compreensão crítica do mundo existencial, mais compreendemos as relações entre nossas práticas e as ideologias autoritárias ou libertadoras; ou estamos trabalhando para legitimar uma sociedade que domina, discrimina, exclui e silencia, ou nossas práxis mostram-se comprometidas com a humanização e cidadania daqueles que estão “impedidos de ser” pelas estruturas sócio-político-econômicas vigentes.
            Nos encontros dialógicos e auto(trans)formativos com o grupo, colocamo-nos a refletir sobre as práticas cotidianas percebendo que muitas vezes assumimos posições opressoras ou oprimidas.  Aos poucos temos clareza de que o processo educativo ocorre através de relações dialógicas entre educandos e educadores; e os professores começam a compreender que quando o ensinar ocorre pela transmissão daquele que sabe àquele que não sabe, assume-se consciente ou inconscientemente o mito da neutralidade, uma espécie de ação pedagógica um “quefazer” puro ou espontaneísta. Daí que

“Não adianta apenas olharmos para os problemas destes jovens, precisamos parar, tomar distância, pegarmos uma lente de aumento e ai sim, olharmos para a realidade deles. Quem sabe só assim como esse olhar e compartilhando entre nós essas informações que temos desses alunos consigamos compreender algo, (...), quem sabe (...)”. (Narrativa da professora C, no encontro de 14.08.2012).

            Faz-se necessária, pois, a superação da visão simplista ou salvadora do sujeito em processo de aprendizagem; trata-se de assumir uma práxis educativa como processo de leitura crítca e criativa, a serviço da emancipação das pessoas. A superação da visão da “educação bancária” (FREIRE, 2011), na qual o professor transfere/deposita o conhecimento no sujeito, permite também a construção de uma sociedade nova, de um homem e uma mulher novos. Somente a partir do momento em que homens e mulheres coletivamente se engajarem com um novo conceito de educação poderão ajudar a transformar a sociedade,  promovendo a compreensão crítica, a conscientização, o compromisso transformador para contriubir com as mudanças sociais.



 
- Interrompendo, para prosseguir os diálogos...



            No decorrer dos encontros formativos com os acadêmicos e os professores das escolas de Educação Básica compreendemos cada vez mais a necessidade da construção de espaços-tempos dialógicos, que problematizem a realidade dos estudantes, e que promovam mudanças de concepções e ações dos educadores, tanto na Educação Básica como no Ensino Superior. Segundo Freire (2011, p.109) “o diálogo é o encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”; assim, uma educação libertadora/conscientizadora/problematizadora e transformadora é aquela que através dos diálogos reflexivos entre os sujeitos e o mundo provoca a inquietação e o movimento de mudança. Então, “...a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos. Sem esta não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível.” (FREIRE, 2011, p. 94).
A compreensão de educação como um fenômeno humano reitera a importância de teorias e ações pedagógicas estarem relacionadas às concepções de homem e sociedade, corroborando com objetivos e metodologias das ações educativas que aos poucos vão transformando a intencionalidade pedagógica e política nas práxis dos professores.
Nesse sentido o projeto de pesquisa “Humanização e Cidadania na Escola” e o Grupo de Estudos “Dialogus” vêm contribuindo para essas reflexões nos contextos educativos, pois acredita na construção de práxis mais humanizadoras e cidadãs dentro do espaço-tempo escolar. Ao longo das reflexões foram assumidas posturas mais críticas e ativas frente aos processos de formação, às concepções de educação e sociedade, às compreensões de quem são os educandos e das ações a serem propostas com eles. Nas falas de um dos integrantes do grupo de professores de EJA “é bom ficar aqui esse tempo, pois aqui nos afastamos das práticas para admirar e refazer, com todo o grupo” (Fala de um dos professores, no encontro do dia 24 de novembro de 2013).
Assim, os diálogos e reflexões construídos nas escolas reafirmam a importância de promover novas interações e debates entre educadores e acadêmicos dos cursos de licenciatura, uma vez que assim se viabilizam (re)(des)construções de novas práxis mais humanas e cidadãs, que contemplem a educação no seu sentido amplo: educar para a auto(trans)transformação das pessoas e contribuir com a transformação da sociedade.
Portanto, o “Grupo Dialogus”, com seus estudos e pesquisas-ação, pretende continuar sendo um espaço-tempo de estudos, pesquisa e auto(trans)formação permanente com professores que atuam nas escolas de Educação Básica em Santa Maria e região, o que também se constitui em primoroso espaço auto(trans)formativo para os acadêmicos dos Cursos de Licenciatura. Refletindo sobre a práxis educativa vigente nas escolas e nas universidades, o desafio está em assumir ações que criem um ambiente e relações de vivência da cidadania em todos os seus aspectos e dimensões, para uma maior genteidade de todos seja na escola, seja na sociedade.
Nesse sentido, buscamos nos comprometer com os processos de libertação/conscientização, que são pensados com os sujeitos, com o intuito de desenvolver a luta pela transformação de si e da realidade ao seu entorno. Com os muitos “outros sujeitos” das escolas e das universidades, educandos e educadores ainda sonhamos e acreditamos que podemos ajudar a fazer a diferença nas relações entre nós e os estudantes, pela maneira de enfocar e (re)significar os conteúdos,  de sentir/pensar/agir na escola, na sociedade, no mundo; podemos começar a fazer a diferença na nossa vida pessoal e profissional, sobretudo na medida em que assumirmos o compromisso de fazer a diferença na vida das crianças, adolescentes,  jovens e adultos que conosco participam de práxis educativas para aprenderem a “ser mais” gente.
Por fim, consideramos extremamente relevante a realização de pesquisas sobre o processo de formação permanente de professores, pois oportuniza a todos que atuam na área de educação uma reflexão-ação-reflexão sobre sua práxis pedagógica, bem como se assumirem como homem e/ou mulher e como cidadão e/ou cidadã no contexto escolar. Acreditamos, assim, que assumindo sua identidade e sua cidadania dentro da escola, os educadores poderão se descobrir gostando de ser gente, e descobrirem-se capazes de ser mais; poderão, então, contribuir também para que os estudantes também se sintam encorajados a se assumirem em todas as dimensões do humano e do social.



* HENZ, C.I. “Dialogus”: Formaç


 

ão Permanente, Humanização e Cidadania. In: VI ENCONTRO INTERNACIONAL DE INVESTIGADORES DE POLÍTICAS EDUCATIVAS (VI EIIPE), 2014, Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Associación de Universidades Grupo Montevideo, 2014. P. 47-52.

** Professor Associado 2 da UFSM. Doutor em Educação (UFRGS, 2003). Professor da LP1: Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional, do PPGE/UFSM. Coordenador do Grupo de Estudos “DIALOGUS: educação, formação e humanização com Paulo Freire”. Email: celsoufsm@gmail.com


[1] No livro “Educação Humanizadora na Sociedade Globalizada” (2007), o professor Celso Ilgo Henz destaca a palavra genteidade, com base nos pressupostos freireanos. O conceito está relacionado ao inacabamento do ser humano e sua constituição como sujeito que aprende permanentemente, no convívio dialógico-afetivo com os outros e com a realidade sociohitóricocultural em que está inserido.




 
REFERÊNCIAS

ARROYO, M. Imagens Quebradas. Trajetórias e tempos de alunos e mestres. 3ªed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.

__________. Outros Sujeitos. Outras Pedagogias. Petrópolis/RJ: Vozes, 2013.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire.  Tradução de Kátia de Mello e Silva. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

______. Criando Métodos de Pesquisa Alternativa: aprendendo a fazê-la melhor pela ação. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1999.

________. Professora Sim, Tia Não. Cartas a quem ousa ensinar. 11ªed. SP: Olho d'Água, 2000.

________. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 50ªed. São Paulo: Cortez, 2009.

________. Pedagogia do Oprimido, 17ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

HENZ, C. I. Razão-emoção Crítico-reflexiva: um desafio permanente na capacitação de professores. Porto Alegre: Tese de Doutorado – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003.

________. Na Escola também se Aprende a ser Gente. In HENZ; ROSSATO, R. (orgs).  Educação humanizadora na sociedade globalizada. Santa Maria: Biblos, 2007. P. 149-168.

IMBERNÓN, Francisco. Formação Docente e Profissional: fomar-se para a mudança e incerteza, 7ª Ed. São Paulo: Cortez, 2009.

MINAYO, M. C. de S. Desafio da Pesquisa Social, (p.09-29). In. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade/Suely Ferreira Deskandes, Romeu Gomes, Maria Cecília de Souza Minayo (org.). 31 ed.- Petrópolis, RJ: Vozes, 2012

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