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"DIALOGUS:" auto(trans)formação permanente, humanização e cidadania *
Celso Ilgo Henz**
- Primeiras
Palavras...
Em meio à realidade sócio-econômico-cultural vigente, a escola pode ser
um dos poucos lugares onde crianças, adolescentes, jovens e adultos tenham a
oportunidade de encontrar um ambiente e pessoas que ainda não estejam
totalmente “coisificados” pela engrenagem da sociedade capitalista neoliberal
globalizada.
Nesta perspectiva, os professores são desafiados duplamente: por um lado
“educar” as futuras gerações para se adequarem e conseguirem sobreviver no
mercado de trabalho e nas estruturas sociais vigentes, assentadas
prioritariamente no conhecimento e na informação, para o que se faz necessário
desenvolver um certo número de “habilidades e competências”; doutra parte,
torna-se extremamente importante e emancipador desenvolver uma capacidade de
reflexão crítica, de autoria e autonomia pelo “dizer a sua palavra” (FIORI, 2011)
e que se constitua como conscientização enquanto engajamento na transformação
do status quo vigente, para que todos
tenham acesso às condições mínimas para viverem como seres humanos e cidadãos.
O “Grupo Dialogus” e seus projetos visam ser um espaço-tempo de estudos e
pesquisas, através diálogo-problematizador, junto com os professores da Educação
Básica e acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria, propiciando uma
reflexão e pesquisa sobre a realidade social e escolar e sobre possíveis mudanças
nas práxis educativas, e contribuir com uma vida mais digna pessoal e
socialmente. Busca encorajar os profissionais a refletirem sobre si mesmos,
sobre suas práticas, para que possam também despertar nos estudantes esse
sentimento de humanização e cidadania. Tomando como enfoque a perspectiva
hermenêutica, dá-se preferência ao processo epistemológico-politico enquanto
pesquisa-formação (JOSSO, 2004), pelos seus aspectos eminentemente (re)construtivos
e dialéticos com vistas à transformação pessoal, pedagógica e social.
O projeto de pesquisa “Humanização e Cidadania na Escola: diálogos com
professores” se desenvolve dentro do Grupo de Estudos “Dialogus: educação, formação
e humanização com Paulo Freire”, registrado junto à base do CNPq em 2011. Mas desde
maio de 2007 as atividades com este recorte de pesquisa-ação se desenvolvem em
escolas municipais e estaduais da cidade de Santa Maria/RS e regiões próximas,
cujos desdobramentos e aprofundamentos
levaram à criação e registro do “Grupo Dialogus”. A razão para tal foi a
necessidade de ampliar e aprofundar questões do projeto de pesquisa
“Humanização e Cidadania na Escola”. Assim, as pesquisas, juntamente com os
estudos que ocorrem quinzenalmente na UFSM, se constituem como um processo de
educação e (re)construção de conhecimentos a partir da indagação auto-reflexiva
que prevê o envolvimento de todos os sujeitos (acadêmicos dos cursos de
licenciatura e professores da Educação Básica e Superior) em ações
prospectivas, tendo como objetivo geral investigar e oportunizar a criação de
processos de humanização e vivência de cidadania com os professores e
acadêmicos Educação Básica e Ensino Superior, visando identificar os seus
limites, desafios e possibilidades.
Com Freire (1999), acreditamos que, a partir da reflexão sobre si mesmo e
sua práxis, toda pessoa é capaz de intervir na sociedade, uma vez que esse
processo conduz a tomadas de consciência e pode resultar no compromisso de cada
homem e mulher para com a história pela qual vai se constituindo. Daí que
durante os encontros, refletimos e dialogamos com os educadores sobre si mesmos,
suas práticas e sobre o contexto político-econômico-social no qual estão
inseridos. Assim busca-se também construir caminhos que possibilitem mudanças
positivas à educação e à vida desses profissionais, contribuindo desta forma,
para o processo de humanização e cidadania na escola. Esse conjunto de
movimentos dialógico-reflexivos torna-se dispositivo de auto(trans)formação
para cada participante interlocutor.
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- Metodologia e
caminhos percorridos
A metodologia utilizada no projeto
“Humanização e Cidadania na Escola” e nos encontros do “Grupo Dialogus”
fundamenta-se em uma abordagem qualitativa que compreende a complexidade
dos fenômenos da vida humana. Para isso, dialoga-reflete para desvendar muitos
significados da vida social que
condicionam o ser/fazer das pessoas; ou seja,
... ela trabalha com o
universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes. Esses conjuntos de fenômenos humanos é entendido aqui como
parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas
por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da
realidade vivida e compartilhada com seus semelhantes (MINAYO, 2012, p.21).
Como abordagem
qualitativa, parte-se de problemas reais. Ademais, nos espaços-tempos do grupo
de estudos e das atividades de pesquisa, todos os sujeitos são participantes e
caracterizam-se como coautotores e construtores de conhecimentos e práticas que
sirvam para intervir nos problemas levantados, refletindo e analisando sobre
como se dão as diferentes relações e interações na práxis educativa
escolar e na sociedade. Esse processo se dá por meio de diálogos
investigativo-formativos, por tratar-se de uma metodologia eminentemente
dialética e construtiva com vistas à transformação da realidade e de si mesmos.
Toda esta processualidade dialógica e dialética inscreve-se no âmbito hermenêutico, pois
estabelece uma ação comunicativa, problematizadora, reflexiva e histórica,
gerando a fusão dos diferentes mundos e horizontes de compreensão, através das experiências
e leituras de cada sujeito participante do Grupo. Nesse sentido, para
Henz (2003, p. 24), compreender
.... significa apreender o
sentido. Mas este sentido sempre encontra-se num determinado contexto; é aquilo
que é "significativo" num respectivo mundo, a partir do qual a
linguagem humana pode descortinar muitas significações e/ou intencionalidades
dentro de uma totalidade impregnada pela
história, tradição, vida cotidiana,
diferentes maneiras de ver e viver a existência humana e o mundo em que ela se
constitui.
Para a realização e dinâmica dos
encontros, assumimos os “Círculos Dialógicos Investigativo-formativos” como proposta
político-epistemológica e pedagógica,
inspirados nos “Círculos de Cultura” criados por Freire: “Os Círculos de
Cultura... reúne um coordenador com algumas dezenas de homens do povo, num
trabalho comum de conquista da linguagem. [...] a condição essencial da tarefa
é o diálogo: ‘coordenar, jamais impor sua influência’” (FREIRE, 1979, p.27). Nesta
perspectiva, segue o testemunho de uma professora:
“Precisamos nos
perceber enquanto gente que somos e estamos conseguindo essa percepção a partir
de nossos diálogos aqui. Vocês nos provocaram, nos desacomodaram de nossas práticas;
possibilitaram a nós um espaço de ouvir, falar, refletir, discutir, respeitar,
compartilhar e principalmente rever nossas práticas” (FALA DE UMA DAS
PROFESSORAS PARTICIPANTES, NOVEMBRO/2013).
Os encontros quinzenais, na
universidade ou nas escolas de Educação Básica, constituem-se no entrelaçamento
de muitas dimensões e aspectos do humano, do pedagógico e do social, enquanto
“leitura da palavra e (re)leitura do mundo” e das práxis pedagógicas, resultando na “conscientização” de si no/com o
mundo, pela aprendizagem do “dizer a sua palavra” de cada um (FIORI, in FREIRE,
2011).
- Diálogos (re)construídos na Auto(trans)formação
Permanente...
Durante os encontros com
os professores e acadêmicos são promovidos diálogos-problematizadores,
desafiando para a possibilidade da descoberta do inacabamento, e por
conseguinte, a consciência de ser humano em permanente processo de auto(trans)formação.
Assim, procura-se ao longo dos encontros desafiar à reflexão e transformação
sobre o cotidiano da sala de aula e da escola, bem como o resgate da genteidade[1] de
educadores, educandos e acadêmicos.
Segundo Francisco Imbernón
(2009) os processos de formação de professores, as instituições educativas e os
profissionais da educação precisam redefinir e reestruturar objetivos e ações,
buscando assumir novas competências e conhecimentos pedagógicos, científicos e
culturais, condizentes com o período histórico, econômico e político da
sociedade. Assim, acreditamos que a formação permanente de professores se dá por meio dos questionamentos e das
reflexões dialógicas que abrangem não só a prática, mas também, capacidades,
saberes, atitudes, sensibilidades, valores e concepções de cada professor ou
professora e do grupo como um todo. Então,
“O que ficou
muito forte para mim, é que precisamos ter coragem para enfrentar as oposições,
pois sempre que buscamos inovar, criar novas maneiras de aprender-ensinar somos
barrados, ou pela gestão da escola, ou pela secretária ou ainda pela sociedade.
Precisamos ter coragem para enfrentar tudo isso por nossos alunos como a
professora do filme teve.” (Fala de
uma das Professoras Participantes, maio/2013)
Desta forma, os
participantes dos círculos dialógicos desafiam-se permanentemente, buscando
descobrir, organizar, fundamentar, revisar e (re)construir teorias e práticas,
dentro do contexto escolar ou para além do mesmo.
A partir dos pressupostos
de Freire (1979, 1999, 2009, 2011), Josso(2004) e de Imbernón (2009)
acreditamos ser imperativo o desenvolvimento de práticas auto/trans/formativas alternativas,
fundamentadas em uma autonomia com autoria e participação dialógica e
democrática, que possibilitam a reflexão sobre os contextos escolares, da
comunidade circundante e da organização da sociedade. Nessa perspectiva, os
processos de auto(trans)formação de professores assumem um papel importante
para uma nova práxis pedagógica. Somente
profissionais abertos à reflexão sobre suas práticas e os contornos individuais
e coletivos que envolvem os estudantes e os processos educativos serão capazes
de “estabelecer estratégias de pensamento, de percepção, de estímulos e
centrar-se na tomada de decisões para processar, sistematizar e comunicar a
informação” (IMBERNÓN, 2009, p. 41).
Para Freire (2009) essa auto(trans)formação
se caracteriza por um movimento de distanciamento, de reflexão crítica sobre as
ações do contexto concreto, a partir da curiosidade epistemológica que se
articula com o saber prático e posteriormente com a prática, como instrumentos
indispensáveis na construção de um conhecimento mais consistente e
significativo sobre o mundo vivido e sentido.
[...] o saber teórico
destas influências teríamos que juntar o saber teórico-prático da realidade
concreta em que educadores trabalham. Já sei, não há dúvida, que as condições
materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do
próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios (p. 137).
Diante disso, é imperativo
que os educadores e as educadoras compreendam a importância de novas práticas
pedagógicas, nas quais os conteúdos estejam imbricados com as relações humanas,
as quais constituem os sujeitos e perpassam todos os momentos e aspectos dos
processos de ensino-aprendizagem. Isso implica o desejo e a abertura para se
auto(trans)formar; quer dizer, a “formação” é algo que somente o professor pode
realizar sobre si mesmo (auto), na mesma dinâmica dialética em que deseja e
busca refletir sobre e mudar (transformar) a sua prática, sempre dialógica e
intersubjetivamente.
A
auto(trans)formação é entendida como um processo que cada participante realiza
sobre si mesmo a partir dos diálogos, problematizações, reflexões e ações que
se desenvolvem no grupo. Freire (2011) e Josso (2004) nos subsidiam para
compreender que ninguém é “formado” de fora para dentro, mas cada um se
autoforma em diálogo com os outros, mediatizado pelos diferentes contextos e
pelas pesquisas que ajudam a cada pessoa se transformar na mesma dialética em
que se compromete com a transformação de suas práticas e da realidade.
Nesse sentido, acreditamos
que o diálogo entre profissionais já atuantes nas instituições educativas e
acadêmicos em formação nos cursos de licenciatura, provoca e possibilita
maiores discussões nos processos de auto/trans/formação (inicial e permanente)
de professores. A partir da leitura e compreensão das relações dos sujeitos que
compõem esses espaços e dos processos de ensino-aprendizagem os professores
tornam-se mais sensíveis e desafiados pelas mudanças que ocorrem na sociedade,
e que envolvem tanto os estudantes como a eles próprios.
- Diálogos a serviço da auto(trans)formação, humanização e
cidadania...
No decorrer dos encontros
buscamos dialogar sobre a importância da leitura critica do mundo e da
realidade, que precede a leitura da palavra. Freire (2009) nos provoca para a
possibilidade de reinvenção das práticas pedagógica através da leitura e
compreensão das ideologias que estão imbricadas em nossas ações. O desafio é
ousar com novas práticas pedagógicas, reconhecendo que para “outros sujeitos”,
que trazem as marcas das “imagens quebradas”, fazem-se necessárias “novas
pedagogias” (ARROYO, 2004 e 2013), com as quais os conteúdos sejam abordados e
imbricados com as relações humanas e socioculturais. Nesta dinâmica dialética,
o educador também está constantemente aprendendo e ensinando junto com os
educandos.
Assim, depois de quase dois anos de
encontros com um grupo de professores da modalidade EJA, muitos deles se manifestaram sobre a necessidade de ao
planejar suas aulas, sentirem primeiro a necessidade de ouvir e dialogar com os
estudantes acerca dos seus cotidianos. Para corroborar com estas
(re)(des)construções epistemológicas, pedagógicas e políticas, trazemos a
narrativa de um dos participantes do grupo no dia 02 de maio de 2013: “a curiosidade, a inquietude, nos faz rever
a nossa prática para melhorá-la no amanhã. Sempre numa percepção crítica,
reinterpretada e reescrita do que foi lido, ou seja, para transformar nossa
prática em uma prática mais consciente e dialógica”. Não obstante, Freire (2009) alerta que esse movimento não
ocorre se não nos voltarmos ao campo existencial; nesse movimento é possível
não só maior compreensão do mundo e da palavra, mas a própria transformação,
pois na medida em que a leitura do contexto concreto e teórico acontecem os
sujeitos poderão modificar suas práticas e o espaço no qual vivem. Nas palavras
do autor,
Refiro-me a que a
leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica na
continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me referi acima, este
movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo, está sempre presente.
Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele
fazemos. De alguma maneira, porem, podemos ir mais longe e dizer que a leitura
da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa
forma de escrevê-lo ou reescrevê-la, quer dizer, transformá-lo através de nossa
prática consciente (FREIRE, 2009, p. 30).
Esse engajamento com a realidade
e com a sua leitura demanda uma compreensão crítica das ações que os sujeitos
estabelecem nos seus contextos (escolares e sociais). Daí também a não
neutralidade da ação educativa e da escola, reconhecendo que toda a educação
possui em sua natureza uma ideologia política, e todo o ato político possui uma
ação educativa. Assim, quanto mais nos aproximamos da compreensão crítica do
mundo existencial, mais compreendemos as relações entre nossas práticas e as
ideologias autoritárias ou libertadoras; ou estamos trabalhando para legitimar
uma sociedade que domina, discrimina, exclui e silencia, ou nossas práxis mostram-se comprometidas com a
humanização e cidadania daqueles que estão “impedidos de ser” pelas estruturas
sócio-político-econômicas vigentes.
Nos
encontros dialógicos e auto(trans)formativos com o grupo, colocamo-nos a
refletir sobre as práticas cotidianas percebendo que muitas vezes assumimos
posições opressoras ou oprimidas. Aos
poucos temos clareza de que o processo educativo ocorre através de relações
dialógicas entre educandos e educadores; e os professores começam a compreender
que quando o ensinar ocorre pela transmissão daquele que sabe àquele que não
sabe, assume-se consciente ou inconscientemente o mito da neutralidade, uma
espécie de ação pedagógica um “quefazer” puro ou espontaneísta. Daí que
“Não adianta
apenas olharmos para os problemas destes jovens, precisamos parar, tomar
distância, pegarmos uma lente de aumento e ai sim, olharmos para a realidade
deles. Quem sabe só assim como esse olhar e compartilhando entre nós essas
informações que temos desses alunos consigamos compreender algo, (...), quem
sabe (...)”. (Narrativa da professora
C, no encontro de 14.08.2012).
Faz-se
necessária, pois, a superação da visão simplista ou salvadora do sujeito em
processo de aprendizagem; trata-se de assumir uma práxis educativa como processo de leitura crítca e criativa, a
serviço da emancipação das pessoas. A superação da visão da “educação bancária”
(FREIRE, 2011), na qual o professor transfere/deposita o conhecimento no
sujeito, permite também a construção de uma sociedade nova, de um homem e uma
mulher novos. Somente a partir do momento em que homens e mulheres
coletivamente se engajarem com um novo conceito de educação poderão ajudar a
transformar a sociedade, promovendo a
compreensão crítica, a conscientização, o compromisso transformador para contriubir
com as mudanças sociais.
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Interrompendo, para prosseguir os diálogos...
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No decorrer dos encontros formativos
com os acadêmicos e os professores das escolas de Educação Básica compreendemos
cada vez mais a necessidade da construção de espaços-tempos dialógicos, que problematizem
a realidade dos estudantes, e que promovam mudanças de concepções e ações dos
educadores, tanto na Educação Básica como no Ensino Superior. Segundo Freire (2011,
p.109) “o diálogo é o encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”; assim, uma
educação libertadora/conscientizadora/problematizadora e transformadora é
aquela que através dos diálogos reflexivos entre os sujeitos e o mundo provoca
a inquietação e o movimento de mudança. Então, “...a educação problematizadora
coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos.
Sem esta não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade
dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível.” (FREIRE,
2011, p. 94).
A compreensão de educação como um fenômeno humano reitera a importância
de teorias e ações pedagógicas estarem relacionadas às concepções de homem e
sociedade, corroborando com objetivos e metodologias das ações educativas que
aos poucos vão transformando a intencionalidade pedagógica e política nas práxis dos professores.
Nesse sentido o projeto de pesquisa “Humanização e Cidadania na Escola” e
o Grupo de Estudos “Dialogus” vêm contribuindo para essas reflexões nos
contextos educativos, pois acredita na construção de práxis mais humanizadoras e cidadãs dentro do espaço-tempo
escolar. Ao longo das reflexões foram assumidas posturas mais críticas e ativas
frente aos processos de formação, às concepções de educação e sociedade, às
compreensões de quem são os educandos e das ações a serem propostas com
eles. Nas falas de um dos integrantes do grupo de professores de EJA “é bom ficar aqui esse tempo, pois aqui nos
afastamos das práticas para admirar e refazer, com todo o grupo” (Fala de
um dos professores, no encontro do dia 24 de novembro de 2013).
Assim, os diálogos e reflexões construídos nas escolas reafirmam a
importância de promover novas interações e debates entre educadores e
acadêmicos dos cursos de licenciatura, uma vez que assim se viabilizam (re)(des)construções
de novas práxis mais humanas e cidadãs, que contemplem a educação no seu
sentido amplo: educar para a auto(trans)transformação das pessoas e contribuir
com a transformação da sociedade.
Portanto, o “Grupo Dialogus”, com seus estudos e pesquisas-ação, pretende
continuar sendo um espaço-tempo de estudos, pesquisa e auto(trans)formação
permanente com professores que atuam nas escolas de Educação Básica em Santa Maria e região,
o que também se constitui em primoroso espaço auto(trans)formativo para os
acadêmicos dos Cursos de Licenciatura. Refletindo sobre a práxis educativa
vigente nas escolas e nas universidades, o desafio está em assumir ações que
criem um ambiente e relações de vivência da cidadania em todos os seus aspectos
e dimensões, para uma maior genteidade
de todos seja na escola, seja na sociedade.
Nesse sentido, buscamos nos comprometer com os processos de
libertação/conscientização, que são pensados com os sujeitos, com o
intuito de desenvolver a luta pela transformação de si e da realidade ao seu
entorno. Com os muitos “outros sujeitos” das escolas e das universidades,
educandos e educadores ainda sonhamos e acreditamos que podemos ajudar a fazer
a diferença nas relações entre nós e os estudantes, pela maneira de enfocar e
(re)significar os conteúdos, de
sentir/pensar/agir na escola, na sociedade, no mundo; podemos começar a fazer a
diferença na nossa vida pessoal e profissional, sobretudo na medida em que
assumirmos o compromisso de fazer a diferença na vida das crianças,
adolescentes, jovens e adultos que
conosco participam de práxis educativas
para aprenderem a “ser mais” gente.
Por fim, consideramos extremamente relevante a realização de pesquisas
sobre o processo de formação permanente de professores, pois oportuniza a todos
que atuam na área de educação uma reflexão-ação-reflexão sobre sua práxis
pedagógica, bem como se assumirem como homem e/ou mulher e como cidadão e/ou
cidadã no contexto escolar. Acreditamos, assim, que assumindo sua identidade e
sua cidadania dentro da escola, os educadores poderão se descobrir gostando de ser gente, e descobrirem-se
capazes de ser mais; poderão, então,
contribuir também para que os estudantes também se sintam encorajados a se
assumirem em todas as dimensões do humano e do social.
* HENZ, C.I. “Dialogus”: Formaç
|
ão Permanente, Humanização e Cidadania. In: VI ENCONTRO
INTERNACIONAL DE INVESTIGADORES DE POLÍTICAS EDUCATIVAS (VI EIIPE), 2014, Santa
Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Associación de Universidades Grupo
Montevideo, 2014. P. 47-52.
** Professor Associado 2 da UFSM. Doutor em
Educação (UFRGS, 2003). Professor da LP1: Formação, Saberes e Desenvolvimento
Profissional, do PPGE/UFSM. Coordenador do Grupo de Estudos “DIALOGUS:
educação, formação e humanização com Paulo Freire”. Email: celsoufsm@gmail.com
[1] No
livro “Educação Humanizadora na Sociedade Globalizada” (2007), o professor
Celso Ilgo Henz destaca a palavra genteidade,
com base nos pressupostos freireanos. O conceito está relacionado ao inacabamento
do ser humano e sua constituição como sujeito que aprende permanentemente, no
convívio dialógico-afetivo com os outros e com a realidade
sociohitóricocultural em que está inserido.
|
REFERÊNCIAS
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Quebradas. Trajetórias e tempos de alunos e mestres. 3ªed. Petrópolis/RJ:
Vozes, 2004.
__________. Outros
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Cortez & Moraes, 1979.
______. Criando
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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1999.
________. Professora
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HENZ, C. I. Razão-emoção Crítico-reflexiva: um desafio permanente na
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IMBERNÓN, Francisco. Formação Docente e Profissional: fomar-se
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MINAYO, M. C. de S. Desafio da Pesquisa Social, (p.09-29). In.
Pesquisa Social: teoria, método e criatividade/Suely Ferreira Deskandes, Romeu
Gomes, Maria Cecília de Souza Minayo (org.). 31 ed.- Petrópolis, RJ: Vozes,
2012
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